2005/06/17

O Porto e a realidade virtual

Tenho vindo a defender a ideia de que a Câmara Municipal do Porto deve dar prioridade às “pequenas coisas”. Gostava de esclarecer melhor este ponto.

Não tenho nada contra pensar alto, estabelecer metas ambiciosas, elaborar grandes projectos, puxar pela cidade. O que afirmo é que:
  1. só tem capacidade para fazer isso quem também sabe resolver os “pequenos problemas” – senão os “grandes planos” são incompetentes e balofos;
  2. só deve fazer isso quem tiver ferramentas que permitam orientar, apoiar ou complementar o desenvolvimento da cidade – senão os “grandes planos” são inúteis.
No Porto, desde há larguíssimos anos, a gestão autárquica tem sido:
  • incompetente – senão não se teria chegado a este ponto;
  • pouco democrática – os efeitos da escassa participação da sociedade civil têm sido, sejamos realistas, praticamente nulos; o debate público tem sido claramente insuficiente;
  • impotente – os meios públicos para actuar são escassos; os privados são desprezados pela autarquia e pelo poder central.
- Que adianta o Porto tentar projectar-se como importante centro do Noroeste Peninsular se a câmara não consegue aprovar um simples projecto imobiliário num prazo minimamente decente?

- Que adianta o Porto promover o interesse turístico do seu património histórico se não consegue obter uma mobilidade pelo menos razoável dentro da cidade?

- Que adianta o Porto elogiar a excelência das suas instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação se não consegue oferecer condições para que elas atraiam investigadores e indústria?

- Que adianta o Porto querer ter peso nacional e internacional se não consegue sequer compatibilizar políticas de desenvolvimento com municípios vizinhos como Gaia?

Assim soa tudo a falso, andamos a iludir-nos uns aos outros. Comecemos pelo princípio, passo a passo, com honestidade e rigor. “Devagar, que tenho pressa”.